Sobre o livro Meditação em ação para crianças
Te convido a pensar em uma criança com quem você convive e responder: o que de mais importante você pode ensiná-la agora na infância?
Quando comecei a trabalhar como professora de educação infantil, me apaixonei por contar histórias. O momento em que uma história é contada numa sala de aula cria um estado magnético nas crianças (e na gente). Quem já experimentou uma situação dessas certamente se maravilhou. Uma boa história acalma corpos, silencia vozes e traz um estado de presença.
Pois então percebi que o estado de presença dos momentos de contação de história pode ser acessado de muitas outras formas. Inclusive nós, adultos, pais, professores, podemos dar instrumentos para que as crianças acessem esse estado de atenção.
Não seria incrível um mundo em que, antes de pedir por atenção às crianças, ensinássemos como consegui-la? Em vez de dizermos que elas se distraem com facilidade, nós observássemos onde está a nossa consciência, a nossa mente? Antes de julgarmos a concentração do outro, reparássemos quão desequilibrada anda a sociedade ao nosso redor?
Vamos imaginar uma sociedade, uma escola ou uma casa em que os adultos ofereçam suporte às crianças para que se acalmem, respirem, observem e cultivem um estado de atenção plena (do inglês, mindful, cheio de mente). Uma sociedade que reveja suas práticas e identifique onde está atrapalhando suas crianças.
É essa a tarefa de Susan Kaiser Greenland no livro Meditação em ação para crianças. Susan é uma mãe que adentrou o mundo da meditação e passou a adaptar exercícios de atenção plena para seus filhos. E agora para nossos filhos, nossos alunos e nossas crianças.
Com linguagem simples e amável, o livro traz diversas práticas que podem ser feitas e incorporadas à rotina de uma casa comum ou de uma sala de aula normal. Susan dá sugestões muito conhecidas por quem trabalha com crianças: a ludicidade das músicas e das histórias, os rituais que marcam a rotina, as brincadeiras com os sentidos… Para além disso, traz lampejos de alguém que dedicou grande parte da vida a olhar para essas crianças com um frescor de quem está descobrindo coisas novas: olhando para o outro olhando para dentro.
Esse é um livro dos bons, daqueles que você lê pensando no outro, mas que está mexendo é em você mesmo. Afinal, como falar do mundo interno da criança sem experimentar você mesmo este estado de atenção plena? Como pedir para que a criança relaxe estando eu estressada? Como falar sobre compaixão sem olhar para o outro com ternura? Não há como falar de tudo isso sem uma reflexão sobre nossa atenção, nossa motivação, nosso equilíbrio, nosso relaxamento e nossas atitudes compassivas.
Como professora, a pergunta do primeiro parágrafo me consome: se eu pudesse ensinar agora apenas uma coisa que melhoraria a vida dos meus alunos para sempre, o que eu ensinaria? Letras, números, conceitos, movimentos, histórias? Qualquer motivação que não seja interior e ampla parece insignificante perto da grandiosidade de ensinar a olhar para dentro.
Por isso, se você é pai, mãe, professor, professora te indico esse livro como uma caixa de ferramentas. Muitas práticas relatadas com singeleza por uma mãe cuidadosa: várias ideias de como ajudar o outro a lidar com o estresse, buscar felicidade, ser gentil e compassivo.
Para nossa sociedade (já que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”), sugiro a leitura como um kit de primeiros socorros: para que a gente passe a olhar para nossas práticas desatentas, cansadas, reativas, entediadas, tensas e como elas refletem imediatamente nas crianças que educamos.
Há saída: parece que temos todo o potencial para cultivar atenção, equilíbrio emocional, compaixão, vivacidade, leveza… Podemos tentar.
Para comprar o livro em versão impressa, acesse o site da Lúcida Letra. A versão para Kindle está disponível também.