Entre tantas metas, promessas e objetivos estáticos, ideais e cruéis, podemos nos oferecer desejos carinhosos para esse ano que se inicia.
Como educar para a felicidade? Era essa a pergunta de um dos cursos que ofereci ano passado, em São Paulo, organizado pela Kind. Entre as participantes, mães, educadoras, madrastas, madrinhas e até gestantes.
Foram três encontros em que abrimos nossos corações para a necessidade de cultivarmos relaxamento no dia a dia, de expandirmos nossa atenção para oferecê-la ao outro e de praticarmos compaixão para comportarmos em nossas vidas mais e mais pessoas.
Ao final, fizemos o seguinte exercício: num pedaço de papel, escrevemos uma (ou duas, ou três!) aspirações muito pessoais. Depois, de olhos fechados, dividimos nossas aspirações, uma pessoa por vez. Quem ouvia, aproveitava o silêncio para realmente escutar e aspirar o desejo da outra pessoa (por ela e também por mim).
O resultado foi um compilado digno de inspirar qualquer ano novo. Olha que bonito:
Que eu possa lidar melhor com a minha raiva.
Que eu respeite os meus limites.
Que eu seja verdadeira comigo mesma.
Que eu não me acostume com o medo.
Que eu possa viver minhas tristezas.
Que eu encontre serenidade para lidar com as adversidades do dia a dia.
Que eu aproveite a minha saúde.
Que eu me permita perdoar e mudar de ideia.
Que eu não me perca em vaidades ao educar para a felicidade.
Que eu não me convença de que o mundo não é bom.
Que eu tenha coragem de me posicionar.
Que eu exercite me colocar no lugar do outro.
Que eu ouça a minha intuição.
Que eu possa me aceitar e não depender tanto da aprovação do outro.
Que eu seja refúgio nesses tempos tão difíceis.
Que eu continue vivendo viva.
Que eu tenha companhia para atravessar esses tempos difíceis.
Que eu confie no caminho.
Que eu tenha sabedoria para viver o agora.
Que eu escute sem estar formulando a resposta.
Que a minha coragem seja maior que os meus medos.
Que eu acolha, sempre.
Que eu tenha um genuíno interesse pelo outro.
Que eu possa entregar sem esperar nada em troca.
Transformamos a crueldade da promessa (“Desejo nunca mais gritar com meu filho”) em uma aspiração bondosa e gentil (“Que eu cultive qualidades que me mantenham serena em momentos difíceis”). Saímos das metas estáticas para a visão de que mente quero cultivar, de que pessoa desejo ser. Muito além de um objetivo, de um ideal: faço um voto.
A grandiosidade de termos aspirações em mente é que elas não vêm associadas à culpa. Eu não me agarro ao meu erro (“nunca mais gritar”), eu olho para a frente. Sem cobranças, mas com responsabilidade. Já assumindo, de cara, que vou falhar – mas com a certeza de que posso retomar o caminho assim que perceber meu desvio. Sem discursividade, com amorosidade.